Banco de Projetos

Prêmio Gestor Público Paraná

Cultivando Saúde e Saberes

Ano / Edição: 2019
Município: Santa Terezinha de Itaipu
Função de Governo: Saúde

Administração Indireta:

Município de Santa Terezinha de Itaipu

Diagnóstico

As doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) constituem um dos maiores problemas de saúde pública atualmente e têm gerado elevado número de mortes prematuras, perda de qualidade de vida, além de impactos econômicos para famílias, comunidades e a sociedade em geral (MALTA ET AL. 2013). Diante do impacto destas informações sobre o município, percebeu-se a necessidade de realizar um levantamento situacional dos problemas de saúde mais evidentes, para diagnóstico territorial no município de Santa Terezinha de Itaipu (STI).
No ano de 2018 foram extraídos dados do SIGSS – Sistema Informatizado – (Sistema Integrado de Gestão de Serviços de Saúde) referentes à:
PRINCIPAIS MOTIVOS DE CONSULTA EM ESPECIALISTAS : doenças do aparelho circulatório; doenças oesteomusculares; doenças do aparelho respiratório e doenças metabólicas.
PRINCIPAIS MOTIVOS DE INTERNAMENTO: oncologia; cirurgia do aparelho circulatório; cirurgia do aparelho digestivo; cirurgia do sistema osteomuscular.
PRINCIPAIS MOTIVOS DE ÓBITO: neoplasias (tumores); doenças do aparelho circulatório; doenças do aparelho respiratório; doença do aparelho digestivo.
Elencadas de maneira crescente, pode se constatar que as DCNT constituem um problema de grande magnitude no município , o que exige estratégias de vigilância, promoção e prevenção à saúde. Devido o aumento substancial de indivíduos acometidos por doenças crônicas como: diabetes melittus, hipertensão arterial, neoplasias, dor crônica por doenças osteomoleculares entre outras, observa-se uma grande procura ao Sistema Único de Saúde (SUS) por comorbidades associadas. Com causas multifatoriais, as DCNT estão intimamente ligadas ao consumo nocivo do álcool, inatividade física, alimentação não saudável e determinante sociais.
Um dos maiores desafios enfrentados é de reunir e manter a participação ativa dos usuários nas atividades de prevenção e promoção à saúde. Sabe-se que a descontinuidade na participação das ações promovidas impossibilita a obtenção de resultados efetivos, o que impacta diretamente no aumento significativo das DCNT e comorbidades. Outra questão relevante é que este aumento de pessoas acometidas por problemas crônicos de saúde aumenta as despesas financeiras do município, uma vez que a atenção especializada envolve alta tecnologia e de alto custo.
Como estratégia de ampliação ao cuidado integral, percebeu se a necessidade de implantar estratégias de cunho integrativo, que pudesse ser atrativo e eficaz com relação à diminuição nos altos índices de doenças já mencionadas e então, deu-se início ao Projeto da horta de plantas medicinais: Cultivando Saúde e Saberes (CSS).
A horta de medicinais foi idealizada, arquitetada e construída no início do ano de 2018 e começou a ser frequentada em novembro do mesmo ano. O projeto contou com a parceria da Itaipu Binacional, através do programa Cultivando Água Boa. O plano de ação das atividades realizadas é voltado para o enfrentamento das DCNT e demais doenças, valendo-se principalmente de ações educativas, permanentes e continuadas. Estas ações educativas estão interconectadas e permeiam especialmente, os projetos de agricultura familiar e ações já desenvolvidas nos Programas NASF (Núcleo de Apoio a Saúde da Família), SAD (Serviço de Atenção Domiciliar), Horta Orgânica Municipal e Educação.

Descrição

Uma das estratégias elaboradas pelo município é o desenvolvimento do projeto CSS, que além ampliar e qualificar a atenção e o acesso à saúde, auxilia na manutenção da biodiversidade vegetal e cultura do oeste do Paraná.
A horta de plantas medicinais foi construída em um espaço de 1.150 m², e conta com aproximadamente 60 (sessenta) espécies até o momento. O objetivo é contemplar o arsenal com pelo menos 90 (noventa) tipos de plantas. As espécies variam entre medicinais e frutíferas e foram selecionadas utilizando-se como critério o perfil epidemiológico levantado no município, além disso, estão distribuídas em forma de mandala com identificação contendo nome popular e científico. A opção pelo formato de mandala se deu pela sua significância relacionada à elevação da espiritualidade do sujeito. A psicologia moderna explica que a contemplação de uma mandala pode ser inspiradora para que se atinja a serenidade da mente, contribuindo dessa forma para que se encontre sentido e ordem na vida (Dibo, 2006).
O projeto CSS além de utilizar a fitoterapia como prática de saúde preventiva, curativa e terapêutica, agrega outros fatores de auxílio e prevenção como o incentivo ao cultivo e consumo de alimentos orgânicos, ou seja, sem agrotóxicos e/ou fertilizantes químicos e industrializados. Os cuidados e o monitoramento das plantas são realizados por funcionário capacitado e conta com sistema de irrigação automatizada onde a água é captada por dreno e passa por dentro da horta.
Um cronograma de visitação à horta foi organizado para receber a população de maneira ordenada, assim, cada bairro tem uma semana do mês pré determinada abrangendo os 4 (quatro) bairros que contemplam o município, e para facilitar o acesso aos que possuem limitações físicas, o município disponibiliza um transporte coletivo. As atividades são realizadas no sentido de ensiná-los quanto ao cultivo, manuseio e manutenção das plantas a fim de incentivar o plantio em seus domicílios. O processo de aprendizado se dá através de práticas realizadas em campo, obedecendo a etapas que são essenciais para o processo de multiplicação. O técnico agrícola envolve os visitantes em todas as etapas do processo, sendo elas: produção de mudas, tratos culturais, controle de praga e doença.
Além dos processos convencionais, a horta é tida como espaço alternativo para terapia ocupacional e recebe os pacientes do CAPS (Centro de Atenção Psicossocial) quinzenalmente. Para mais, outros grupos de prevenção/promoção à saúde já existentes no município, interagem com as atividades da horta, e é nomeado: “caminhada à horta”. Estes pacientes participam de um grupo de atividade física e alongamento, e estendem as atividade com uma caminhada até a horta, fortalecendo a prática de atividade física.
Como parte integrante do projeto e com o objetivo de disseminar e aprimorar conhecimento, uma cartilha foi elaborada. Nela contém informações sobre a forma de preparo, ação terapêutica e contra indicações das plantas medicinais. Embora a cartilha tenha caráter informativo, sabe se que as plantas possuem propriedades que podem interagir com um segundo medicamento, aumentando ou inibindo o efeito desejado, por isso, a prescrição das plantas é realizada apenas por profissional capacitado. Como já mencionado, as DCNT tem alta prevalência e por isso a maior procura é por plantas que auxiliem na melhora dos sintomas relacionadas à hipertensão arterial e diabetes mellitus. Por exemplo, uma das espécies cultivada com atividade anti-hipertensiva, é a Alpinia zerumbet popularmente conhecida como Colônia e outra planta bastante utilizada na terapia complementar é a Cúrcuma longa L, popular “açafrão”, que pode ainda ser consumida como condimento.
Tendo em vista a real importância de uma prescrição feita com excelência, profissionais evolvidos participam de capacitações, tendo como principais parceiros a Universidade Federal Latino Americana (Unila), Itaipu Binacional, bem como, municípios vizinhos. A finalidade em longo prazo é intensificar o conhecimento para inserção de novas plantas e fomentar as pesquisas científicas.
Outra atividade estratégica relacionada com educação nutricional e práticas alimentares corretas é o incentivo a substituição no consumo de temperos alimentares industrializados por temperos naturais. Essa atividade está atrelada a um grupo de emagrecimento, onde pessoas com obesidade semanalmente vivenciam um processo terapêutico grupal com foco na abordagem cognitivo comportamental e reeducação nutricional através de práticas dietéticas , como por exemplo, o preparo de temperos naturais feito com ingredientes da horta. A caminhada à horta, também é parte desse projeto de emagrecimento.
Por fim, é importante frisar que o tratamento fitoterápico é realizado de forma individualizada através de anamnese clínica/nutricional, avaliação física e bioquímica. O “chá” é forma de utilização prescrita no momento, e deve ser preparado por decocção, maceração ou infusão.

Objetivos

Gerais:

Promover ações de prevenção e promoção de saúde a partir da utilização de plantas medicinais a fim de reduzir o índice de DCNT no município.

Específicos:

• Incentivar a utilização de plantas medicinais;
• Incentivar hortas domiciliares;
• Estimular alimentação saudável;
• Fomentar a prática de atividades físicas;
• Favorecer o bem estar emocional.

Metas a atingir:

Espera-se que os usuários:
• Utilizem adequadamente as plantas medicinais como um recurso para o tratamento de doenças;
• Cultivem as plantas medicinais em seus domicílios;
• Conscientizem-se do uso devido de medicação comercial, bem como dos riscos da automedicação;
• Promoção da saúde mental, a partir da utilização do espaço e do manejo das plantas como ferramenta terapêutica e da socialização;
• Disseminem os conhecimentos adquiridos quanto às plantas medicinais e seu manejo;
• Reduzam a procura pela atenção especializada, assim como a super utilização do SUS no município a partir do controle das DCNT;
Desde a implantação do projeto CSS, constatamos através de visitas domiciliares o cultivo e a utilização de plantas medicinais pelos participantes do projeto. Deste modo, espera-se promover uma mudança de hábito na população quanto à utilização das plantas medicinais como alternativa à medicalização, promoção e prevenção a saúde.
A partir do ingresso no Projeto CSS o usuário é apresentado a outras práticas alternativas em saúde, como projetos de incentivo à atividade física, alimentação saudável, saúde mental.

Cronograma

Físico:

Distribuição de folders e cartilhas contendo informações sobre as plantas; elaboração de projetos para pesquisa científica; organização de workshops para aprimoramento do conhecimento relacionado às plantas; aquisição de equipamentos para manutenção do espaço e para utilização em terapia ocupacional; construção de um espaço (quiosque) para receber visitantes locais ou de outras regiões.

Financeiro:

Grande parte dos recursos investidos com a compra de equipamentos e manutenção do espaço foi através de edital publicado pelo programa Cultivando Água Boa. Demais custos, é oriundo de recursos próprios municipais, bem como, parcerias firmadas com a Itaipu Binacional.

Orçamento:

Vencimentos e vantagens fixas - pessoal: 25.990,00 R$;
Obrigações patronais: 6.330,00 R$;
Outros serviços pessoa jurídica: 12.000,00 R$;
Material de consumo: 25.000,00 R$;
Os dados supracitados são referentes ao orçamento para o ano de 2019.

Beneficiários Diretos:

A implantação do Projeto CSS permitirá:
• Expandir o conhecimento sobre o uso de plantas medicinais, seu manejo correto e utilização;
• Reduzir o número de pessoas com DCNT;
• Controle das DCNT’s através das práticas integrativas;
• Diminuição do uso de medicamentos industrializados;
• Diminuição da freqüência de utilização do Centro de Especialidades Médicas e do SUS;
• Melhoria da qualidade de vida a partir da participação dos usuários nas praticas integrativas;
• Resgate do cultivo e consumo de ervas medicinais caseiras em detrimento do uso de medicações comerciais;
Conscientizar e reeducar as pessoas sobre a importância da saúde integrativa e o uso de plantas medicinais

Beneficiários Indiretos:

• Conscientização agroecológica;
• Promover educação ambiental;
• Troca de conhecimentos entre profissionais e usuários;
• Diminuição dos níveis de estresse e ansiedade dos envolvidos;
• Ampliar conhecimentos a respeito do plantio e manejo do solo e das plantas;
• Mudança do processo e conceito saúde-doença;
• Geração de auto cuidado;
• Melhoria nos fatores econômicos e sociais;
• Conhecimento e acesso aos demais serviços de promoção e prevenção à saúde;

Resultados:

Desde que a horta de medicinais entrou em vigor, as ações coletivas que já existiam no município se consolidaram consideravelmente, tendo em vista que o espaço é capaz de proporcionar ambiente satisfatório para diversos campos da saúde, seja físico ou psíquico.
Tornou se também um ponto de referência, para trabalhar educação ambiental com crianças e adolescentes. Outra atividade que já mostra frutos é a distribuição de mudas aos visitantes e boa parte dos frequentadores da horta, já possui um espaço reservado ao plantio de medicinais em seus domicílios, que se deu através do incentivo recebido nos encontros semanais, possibilitando as boas práticas agrícolas.
Outro ponto relevante que se observa, é o empoderamento da população no resgate do conhecimento popular sobre o uso de plantas medicinais. Ressaltando que, durante os encontros, profissionais capacitados verbalizam através de rodas de conversas, a importância do consumo correto, para que não haja efeitos indesejados, e os visitantes também têm oportunidade de resgatar saberes populares.
Embora os resultados não sejam imediatos, devido o tempo de iniciação, a horta já é considerada ferramenta de grande importância por gerar mudanças no estilo de vida, e conscientização a respeito de diversas questões inclusive as ambientais, aumentando a auto-estima e capacitando o indivíduo para o enfrentamento das diversas fases da sua existência. Em suma, as ações que permeiam o projeto CSS já mostram resultados qualitativamente impactantes, relacionados a mudanças de hábito, educação ambiental, ampliação da assistência a saúde e perspectiva de mudanças nos indicadores de morbimortalidade, considerando o ser humano em sua integralidade.

Anexos

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