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PROJETO SOCIOEDUCATIVO “MARIA BONITA”

Ano / Edição: 2018
Município: Mandaguari
Função de Governo: Assistência Social

Diagnóstico

O município de Mandaguari possui aproximadamente 35 mil habitantes, se caracterizando como médio porte e apresenta Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) muito elevado (0,943). Está localizado na região norte central do estado do Paraná, e sua economia gira em torno da indústria, comércio e agricultura, com destaque para o café. O Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) do município possui cerca de 3.500 famílias referenciadas aos seus serviços ofertados, sendo realizados aproximadamente 794 atendimentos mensais (Fonte: relatório mensal de atendimento do CRAS – Fevereiro/2018) à indivíduos e famílias. A partir dos atendimentos realizados pela equipe técnica, foi possível perceber que a demanda espontânea parte, em sua maioria, de mulheres chefes de família que apresentam necessidade significativa de um atendimento diferenciado que proporcione um espaço de convívio comunitário e de troca de experiências. Constatou-se no discurso das usuárias acompanhadas a fragilidade do sentimento de pertença social e da consciência de que elas são sujeitos de direitos. Além disso, as narrativas são carregadas de vivências traumáticas, marcadas por violência de gênero, fragilidade de vínculos de afeto e precário acesso aos direitos básicos, que trouxeram como consequências a naturalização da realidade social, desconhecimento dos direitos sociais, dificuldades de relacionamento, baixa autoestima e sentimentos negativos. Essas mulheres encontram-se em situação de vulnerabilidade social e, muitas vezes, estão inseridas em um ciclo de pobreza e de violação de direitos o qual tem dificuldades de superar. Assim, consideramos estratégica a execução de intervenções coletivas que propiciem reflexões a respeito da realidade social que se encontram, a partir da análise de suas vivências, com base em um viés participativo e da perspectiva do direito.

Descrição

O Projeto “Maria Bonita” é voltado para mulheres em situação de vulnerabilidade social, referenciadas e acompanhadas pelo CRAS, com idade a partir de 18 anos, e caracteriza-se como trabalho psicossocial e continuado, com vistas à promoção de um espaço participativo que propicie a troca de experiências e reflexões acerca da realidade social das usuárias atendidas pelo CRAS, a fim de mediar a transformação em âmbito microssocial. Acontece por meio de grupos socioeducativos semanais, com capacidade de aproximadamente quinze à vinte participantes, alternando entre rodas de conversa e oficina de artesanato, que favorecem o compartilhamento de vivências e o fortalecimento dos vínculos comunitários. Nas rodas de conversa os temas são definidos de acordo com a necessidade apresentada pelas participantes, circundando temáticas sobre vivências pessoais, direitos sociais, igualdade de gênero e empoderamento feminino. A oficina de artesanato é uma estratégia para atrair usuárias ao grupo, e não tem como finalidade caracterizar-se como curso, mas como mediadora de espaços de fortalecimento de vínculos, de expressão e criação. Eventualmente as participantes do projeto realizam atividades culturais, como participação em campanhas socioeducativas e visitas a parques, cinema, entre outros. O convite para participar acontece, principalmente, no início de cada ano com a entrega de um convite específico às mulheres acompanhadas por este órgão, por meio de visitas domiciliares ou em atendimento psicossocial. No entanto, durante todo o ano as mulheres usuárias dos serviços podem ser inseridas no grupo por demanda espontânea, encaminhamento da rede de serviços ou busca ativa do órgão, se caracterizando como um grupo aberto. Atualmente, conta com cerca de quinze membros participando ativamente das atividades e de modo voluntário (a participação não é obrigatória ou condicionada a algum benefício). Vale ressaltar que, desde o seu início, o mesmo teve cerca de quarenta mulheres inscritas, que foram se desligando e se inserindo no grupo de acordo com suas possibilidades. É importante destacar que o trabalho com mulheres é uma demanda social, considerando que o tema relativo a seus direitos, bem como suas violações, é atual, necessário e está em pauta desde 2005 com a elaboração do Plano Nacional de Política para Mulheres.

Objetivos

Gerais:

Possibilitar um espaço de reflexão sobre a realidade social, de modo a potencializar a autonomia, o protagonismo e o fortalecimento de vínculos familiares e comunitários às mulheres atendidas no município de Mandaguari.

Específicos:

• Possibilitar um espaço democrático e participativo;
• Incentivar o controle social;
• Assegurar um espaço de troca de experiências para as mulheres e promover o convívio social e comunitário;
• Desenvolver atividades socioeducativas que abordem temas relacionados a direitos sociais, igualdade de gênero, machismo e família;
• Incentivar a autonomia e empoderamento das mulheres considerando o contexto atual;
• Desenvolver atividades que trabalhem a autoestima de cada mulher.

Metas a atingir:

• Prevenir a violação de direitos, por meio de informações e orientações sobre direitos e deveres dos cidadãos, com temáticas relacionadas a exploração do trabalho infantil, do abuso sexual infantil, da violência contra criança e adolescente e contra a mulher, direitos sociais e políticas públicas de saúde, educação, assistência social, habitação, entre outros.
• Sensibilizar a respeito de direitos sociais, de modo a potencializar a autonomia das mulheres a buscar os serviços públicos a partir de uma perspectiva de direito e não de favor;
• Desnaturalizar a violência de gênero, esclarecendo os diferentes tipos de violência tipificados nas leis nacionais (física, moral, sexual, psicológica e patrimonial) e sua relação com a cultura machista em que estamos inseridos;
• Potencializar a transformação social de suas realidades a longo prazo, por meio da orientação e reflexão sobre a realidade e o contexto social em que se encontram.

Cronograma

Físico:

1. Janeiro: levantamento de novas mulheres atendidas/acompanhadas pelo CRAS e de mulheres já inscritas no projeto;
2. Fevereiro: realização do convite via visita domiciliar ou em atendimento psicossocial;
3. Março a Novembro: planejamento e execução dos grupos semanalmente;
4. Dezembro: avaliação e encerramento do grupo.

Financeiro:

Os gastos estão previstos no orçamento anual da Secretaria Municipal de Assistência Social com recursos próprios e provenientes do Governo Federal destinados ao PAIF.

Orçamento:

Custo operacional: o recurso financeiro utilizado é parte do PAIF e sua parcela mensal consiste no valor de R$ 4.800,00 mensal. Deste valor, é dispensado aproximadamente R$500,00 ao mês, sendo R$ 6.000,00 anual para o projeto, uma vez que são utilizados materiais de expediente, gêneros alimentícios para confraternização e materiais para realização das atividades manuais. Os recursos humanos necessários para planejamento e execução do projeto são os profissionais que já compõem a equipe técnica de referência do CRAS.

Beneficiários Diretos:

Mulheres em situação de vulnerabilidade social referenciadas ao CRAS, sendo que no ano de 2016, participaram do grupo cerca de 26 usuárias; em 2017, cerca de 20; e em 2018, participaram, até o momento, aproximadamente, 20.

Beneficiários Indiretos:

Famílias das mulheres participantes e a comunidade na qual se relacionam.

Resultados:

Os resultados alcançados pelo Projeto “Maria Bonita”, dado o seu início até o momento, foram levantados a partir das avaliações realizadas com os membros, tendo como eixos norteadores os objetivos propostos. Como resultados parciais, nota-se que as mulheres, de uma forma geral, estão aderindo ao grupo, vinculando-se entre si, refletindo sobre suas experiências e ressignificando suas vivências. Notou-se elevação da autoestima, uma vez que após frequentar o grupo sentem-se mais seguras, confiantes e aceitam a si mesmas com mais facilidade. Somado a isso, há mulheres que superaram ou estão superando uma possível depressão, já que reconhecem-se mais humanas e pertencentes ao grupo e à sociedade, valorizam os próprios desejos e identificam-se umas às outras, sendo o projeto uma possibilidade de suporte psicológico e social. O grupo tem se apresentado como um espaço de troca de experiências e convívio comunitário, pois há o momento de fala e escuta do outro, o compartilhamento de histórias e dificuldades e a criação de vínculos comunitários, de solidariedade e de amizade. Tem se mostrado um importante instrumento para prevenção de riscos sociais, ao possibilitar o reconhecimento dos direitos sociais e da cultura machista, e para a sensibilização da luta pela igualdade de gênero. Deu voz às mulheres, no sentido de sentirem-se seguras para questionar situações em que discordam ou quando compreendem que um direito social está sendo violado. Possibilitou que os membros se reconheçam enquanto sujeito de direitos, dando oportunidade para a autonomia e empoderamento das mulheres. Além disso, proporcionou a compreensão, de forma mais ampla, a complexidade da violência contra a mulher, assim como a Lei Maria da Penha e as medidas tomadas para proteção da mulher nesses casos. O projeto demonstrou ser um espaço participativo e democrático, uma vez que as mulheres participam ativamente da organização e das discussões do grupo, sendo que os saberes são construídos coletivamente, por intermédio das vivências particulares de cada uma, incentivando a exposição de ideias, experiências e sensibilizou em relação ao controle social. Tal situação pode ser exemplificada por meio do interesse e participação no Conselho Municipal de Assistência Social. Somado a isso, houve a participação de uma das mulheres do grupo na XI Conferência Municipal de Assistência Social compondo a mesa de autoridades - juntamente com o prefeito, vereador, promotor de justiça e a secretária de Assistência Social - representando os usuários da Política Municipal de Assistência Social de Mandaguari e realizando uma fala pública, de própria autoria. Houve, também, a leitura de uma poesia adaptada por duas mulheres inseridas no projeto e apresentada por elas na abertura do evento em comemoração ao Dia Internacional da Mulher, no ano de 2018, que demonstraram a superação de inseguranças e dificuldades em se expor em público, e a sensibilidade em trazer uma mensagem ao coletivo. Além disso, o projeto tem demonstrado relevância também no meio da pesquisa científica, pois já foram elaborados dois trabalhos a partir dele, sendo realizado apresentação de painel denominado “Projeto Socioeducativo para Mulheres “Maria Bonita”” no III Encontro Regional de Psicologia e Assistência Social da Universidade Estadual Paulista – UNESP no ano de 2016 e também o artigo científico apresentado e aprovado enquanto Trabalho de Conclusão de Curso de Especialização em Serviço Social na Sociedade Contemporânea: direção social, instrumentais e política social, intitulado “O Serviço Social e o trabalho em grupo no Centro de Referência de Assistência Social de Mandaguari: A Experiência No Projeto “Maria Bonita””.

Anexos

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